Sunday, January 18, 2009

A Copa e a Minivan


A Copa e a Minivan

Esse episódio ocorreu em 1994 durante a Copa do Mundo dos Estados Unidos. Naquela época estava morando com o meu irmão José Luiz, ou Gôs como todos nós o chamamos, e sua família nos EUA onde completava o meu mestrado em Bowling Green, Ohio.

Durante a Copa fomos assistir a 4 jogos ao vivo em Detroit, no Silver Dome, o primeiro estádio totalmete coberto a abrigar jogos de Copa do Mundo. O último dos 4 jogos foi entre Brasil e Suécia. Para este jogo veio toda a família do Brasil. Fomos os 3 filhos homens e o Papai ao estádio ver um jogo, que apesar de não ter sido muito bom marcou muito por ter sido um jogo do Brasil em Copa do Mundo e ainda mais com a Família. Essa viagem teve até peneu furado, mas isso é assunto para outra estória.

Depois deste jogo a família foi toda a Chicago em uma Minivan alugada. Eram 9 pessoas na Minivan, com direito a paradas em McDonalds e postos de gasolina para o estratégico “pip-stop” familiar. Neste meio tempo a Copa continuava, eu sempre assistindo do hotel. O Papai comprou uma TV Branco e Preto de 5 polegadas e que podia ser plugada no carro. Foi assim que assisti a Itália eliminar a Nigéria com um gol no fim do jogo e outro na prorrogação.

Bom, a Família voltou ao Brasil de Chicago e eu, o Gôs e a família voltamos de minivan para Ohio. Este foi o mesmo dia do jogo entre Brasil e Holanda em Dallas. O jogo começou quando ainda estávamos no aeroporto O’Hare em Chicago. O primeiro tempo terminou 0X0 e nós, com a confusão da partida da família, não pudemos assistir a quase nada, a não ser alguns lances pelas TVs do aeroporto que passavam o jogo ao vivo.

Entramos no carro e eu fiquei pilotando a televisão enquanto o Gôs guiava a tal minivan. O segundo tempo foi emocionante. Bam, 1X0 gol de Bebeto, 2X0 gol de Romário. Tá no papo, dissemos um para o outro. O Brasil só tinha tomado um gol durante os outros 4 jogos, não seria hoje que iria tomar 3. Ou seria? Bum, gol da Holanda, outro gol da Holanda.

Olhei para o lado e as mãos do Gôs pingavam enquanto ele guiava. Estávamos os 2 muito nervosos na Interestadual em Indiana. Tão nervosos que a Kathy, esposa do Gôs, sugeriu que parássemos a minivan no acostamento e assistíssemos os minutos finais ali mesmo. Eu disse a frase “já vi este filme antes” em referência as 5 Copas em que tinha visto o Brasil vair sem sucesso.

Mas na telinha da TV branco e preto o Brasil, de camisa mais escura (claro que eu sabia que era azul) vai pro ataque. Branco, o único jogador catimbeiro do time, pega a bola e arranca pela esquerda. O Overmars, jogador mais rápido da Holanda está atrás dele. Sentindo que vai perder na corrida, Branco solta o cotovelo no Overmars e se joga no chão. Falta para o Brasil a uns 30 metros do gol. Durante toda a Copa o Brasil não tinha feito nenhum gol de falta. Branco bate. A bola passa por trás do Romário, curva, bate no sopé da trave. Gol. Do Brasil. Este filme eu não tinha visto ainda...

Fim de jogo. As Mãos param de suar. Voltamos a guiar o carro e sentimos a ressaca da adrenalina. Resolvemos parar para comer alguma coisa pois estávamos todos com fome.

Este foi um dia inesqucível em uma Copa que o Brasil foi Campeão!

LDPA, 21 de Março de 2002

Uma Visita Carolíngea

Essa e' uma homenagem ao meu querido sobrinho Fi:

Uma Visita Carolíngea

Chegou no aeroporto
E me viu com a camisa do Brasil.
Saiu do avião meio torto
Não reconheci o Sobrinho querido.

Descemos o morro de patinete,
Jogamos futebol com parede e carpete,
Passes precisos e gols de tabela,
Um toque de craque e um gol de cabeça.

Façanha antes considerada impossível
Me bateu várias vezes no botão,
Brasil e Itália revanche de um Sarriá inesquecível,
Da eletrônica Copa do Mundo foi campeão.

De um Joe Gato no saco de papel pardo,
Ou uma Siamesa miante com bola de papel,
Gravando um CD de um Jorge Ben bardo,
Na viagem a Praia, Wilmington, e comeu até pastel!

De um navio da Segunda Guerra,
Uma cidade flutuante, estórias de outras vidas,
Uma cidade flutuante fora da terra,
Decidindo nossos destinos em eras jazidas.

Até grama cortou e regou tomateiro,
Catou conchas cinzas que esqueceu com este Tio.
No enorme cinema vimos ocontinente Antártico inteiro.
Aprendeu a contra quarters, níqueis, dimes, dinheiro.

Felipe, para relembrarmos estes dias inesquecíveis,
Em que foi minha companhia em tudo,
Vão palavras e fotos possíveis,
Muito melhores do que ficar mudo.

Um Grande Abraço,

Dão e Jeanne
Setembro de 2002

Botões 1973

Botões 1973

As traves de metal são feitas de arame de um cabide desmontado. O alicate dobra o metal em postes medidos em cada milimetro. Depois de montada a trave agora vem a rede. São forros de cortinas velhos colados nos postes com cola branca. O resultado é um gol com rede que estufa. Que nem o Mineirão. Tá no filó!!!

A bola é feita de uma missanga lixada no cimento da calçada até ficar em forma de um dadinho. Cor de laranja. O furo no meio nao parece incomodarnem um pouco. Quanta criatividade!

Espero ansiosamende a “Edição de Esportes” do Jornal da Tarde da Segunda-feira, que e’ metade do tamanho do jornal, ideal para as mãozinhas de 9 anos, que traz as escalações dos times. Dali corto os nomes e colo com durex por baixo dos “botões”. Depois pinto os botões transparentes por baixo com lápis coloridos.

Os jogadores são “craks da pelota”. Mais avançados do que botões de casaca, mas muito piores do que “vidro de relógio” que ainda estão por vir. Por baixo dos “discos transparentes estão colados com fita transparente os nomes dos craques. No Corinthians, pintado a lápis de azul claro, Rivelino e Vaguinho. No Palmeiras propriamente pintado de lápis verde Ademir e Leivinha, no Santos pintado de preto Pelé e Nenê, no São Paulo pintado de laranja Mirandinha e Pedro Rocha.

Os “craks da pelota” tinham uma bomba no chute, mas não conseguiam encobrir os goleiros, caixas de fósforos cheias de pesos de chumbo, encapados com papel colorido e com o nome do goleiro de cada time.

O Natal vai chegando. Cheio de ansiedade, sei que os Botões “de verdade”, de vidro de relógio (que na verdade são de plástico) vão chegar, mas não sei de quem vem. E, no dia 23 de Dezembro vem mesmo.

Antecipando a Copa de 74 que está por vir em alguns meses, são duas seleções Brasileiras, A e B em duas caixas amarelas (de cartões pessoais) transparentes. Nas tampas escudos de 6 times diferentes. As escalações eram, no time A: Leão, Carlos Alberto, Luis Pereira, Piazza, Marinho Chagas, Clodoaldo, Pelé, Jairzinho, Gerson, Leivinha e Rivelino. No time reserva Neneca, Zé Maria, Amaral, Alfredo Mostarda e Marco Antonio, Flamarion e Dirceu Lopes, Terto, Enéas, Mirandinha e Paulo Cesar Cajú. Que belos times! Cada jogador tem sua foto e nome colado por baixo dos botões. Uau!

Depois dessa inspiração vieram muito mais times. Foram Campeonatos Brasileiros com 40, 60 e 96 times! Cada um feito com carinho e arte. Mas nenhum dos times marcou tanto quanto aquelas 2 caixinhas amarelas.

Botões, 35 anos depois e ainda me lembro da sensação. Por isso gostaria de dar um outro obrigado ao Roberto, meu cunhado, que passou o gosto para a minha geração. Espero que os meus filhos ainda se divirtam assim!

P.S. Hoje, em 2010, alguns anos depois, continuo jogando, mas agora com meu filho de 7 anos, o Andre'!

EM 75 MILIMETROS

EM 75 MILIMETROS

Decorria o início dos anos 70 no Brasil. Epoca de ditadura militar com obrigação de se marchar em todo 7 de setembro. Cantando o Hino Nacional. O futebol era a Tri-Campeão do Mundo, esquadrão de ouro, bom no samba, bom no couro. Veraneios e Simca Chambords eram os carros da vez. Empregos havia a granel. Na televisão a Globo se firmava como a grande força da mídia do país.

Nossa família ainda estava inteira morando em casa. Todos os 5 filhos. Uma tarde, me lembro bem, vi o Papai tirar do carro um objeto cinza, bem grande e que parecia também muito pesado. O que seria aquilo? Sempre muito curioso nos meus 8 ou 9 anos de idade, cheguei perto e perguntei:

-“Pai, o que é isso?”
-“E’ um projetor meu filho. “
-“Protetor de que?”
- “Não filho, não é protetor, é PROJETOR. E’ uma máquina de passar filmes de cinema.”
- “Aqueles bem grandões? Como na Noviça Rebelde?”
- “E’, isso mesmo.”
- “E o que que a gente vai assistir? Não tem que comprar os filmes?”
- “Não precisa comprar. A gente aluga eles pelo fim-de-semana.”
- “Ah. E onde a gente assiste?”
- “A parede da sala-de-estar é um lugar perfeito. E’ branca. A gente tira um dos quadros, arruma o sofá e as cadeiras como se fosse num cinema e pronto, assiste ao filme.”

Depois de descarregar o tal projetor foi a vez de duas caixas redondas de metal. Tentei carregar, mas como eram pesadas! Não sabia que filmes pesavam tanto.

- “Que filme vamos assistir?”
- “O Ouro de Maquena. E’ um filme de caubói.”
- “Que legal. Posso assistir?”
- “Claro que pode, foi poi isso que compramos projetor.”

E assim chegou o Domingo a noite. Acho que deviam ser umas 20 pessoas que vieram a nossa casa para ver o filme. O papai e o Zaga, irmão mais velho, se atrapalhavam ao colocar o “rolo” de filme no projetor. A lâmpada tinha que esquentar. O rolo não podia parar nunca, senão o calor da lâmpada queimava a película sobre o plástico do filme. E ainda, no fim de cada rolo tinha que parar e trocar. Deixava-se a máquina ligada e apagava-se a lâmpada por alguns minutos. O ventilador sobre a lâmpada fazia tudo esfriar mais rápido. O alto-falante era responsável por metade do volume da máquina. Um fio ligava as duas metades. Não entendia porque era “alto” se ele era tão baixo...e além de tudo pesadíssimo.

Com as visitas sentadas as luzes se apagam. O som começa meio esquisito, mas logo fica bom. O irmão mais velho ajusta a imagem que está “fora de foco”. Um pouco mais, um pouco menos e “voilá” imagem perfeita. A grande cena dos cavalos andando pelo deserto. A busca pelo ouro perdido em Eldorado. Paredes inteiras de um penhasco formadas de ouro sólido. Indios inimigos. Ganância pelo metal valioso. Muitos tiros e traição.

Na troca de rolos uma parada estratégica para o lanche. Frios, mussarella, pão-francês fresco, queijo-de-copo, guaraná, coca-cola e sopa. Que fartura.

Que divertido! Foram só alguns filmes. O mais marcante foi “Os Canhões de Navaroni” com o David Niven. Mas como era legal ter o “cinema em casa”. Para os que nasceram na geração do video-cassete e agora dos DVDs isso parece tão corriqueiro. Ver filme em casa. Mas, pelo que eu saiba, nós eramos a única família com um projetor de cinema em casa. E ainda víamos tudo na parede da sala!

Dividir a sala de cinema só com pessoas conhecidas era muito melhor do que ter estranhos ao lado. Principalmente para quem tem menos de 10 anos e gosta de sentar no chão. Hoje, quase 30 anos depois, ainda continuo com a mesma mania de deitar no chão para assistir filmes. Deve ser por ser o quinto filho. Será que a cadeira que sobrava para mim, se é que sobrava, era muito dura? Todos que vem a minha casa hoje em dia perguntam: “Você não vai sentar no sofá? Tem lugar”. E eu digo que o chão é o melhor lugar da sala e sempre que digo isso lembro do famoso “Ouro de McKenna”.

Dão
Julho de 2002

A Lama Portenha

A Lama Portenha

Era o início das férias de julho de 1982. Coincidia com o começo da segunda fase da Copa do Mundo da Espanha. O Brasil estava indo muito bem, tendo batido a Russia, a Escócia e a Nova Zelândia com um grande futebol. A Copa estava sendo muito boa tecnicamente, com vários jogadores se destacando, como Zico, Falcäo, Rummenigge, Platini, Boniek e muitos outros. Até times como Camarões e Honduras, na sua primeira participação, haviam surpreendido. A exceção foi El Salvador, que perdeu por 10X1 para a Hungria.

Naquele dia chuvoso de Julho fomos eu e o Nando Cataldi para a Fazenda, sendo levados pelo nosso Motorista, o Seu Osório e também um exército de Anjos da Guarda. Resolvemos sair as 9 da manhã, já que nós dois eramos fanaticos por futebol. As 12:00 iriam passar o jogo entre Itália e Argentina, e nós tinhamos que assistir. A viagem deveria levar 2 horas, o que nos daria bastante tempo para nos “prepararmos” para assistir ao jogo.

Passamos a viagem inteira conversando sobre futebol. O Nando, meu amigo do peito, companheiro e adversario temido de Futebol de Botão além de armador para muitos gols era a companhia perfeita para a Copa. Nós assistíamos a todas as partidas.

O Seu Osório, acompanhado pelo batalhao de Anjos, ia dirigindo abaixo da velocidade permitida, que era 80 kilometros por hora na época. Mas como a conversa estava boa, não sentiamos o tempo passar.

Quase na chegada a fazenda a chuva apertou . Entramos na estrada de terra e percebemos que estava um verdadeiro lamaçal. “Devem ter passadop a Plaina” foi o comentário. O carro, um Opala verde-metálico com banco inteiriço e câmbio alto de 3 marchas dançava a traseira na subida escorregadia. Começamos a suar frio. O carro foi ficando mais e mais lento e então a subida terminou. Passamos a enorme pedra que destruia o fundo dos carros, a “Pedra do Vovo Clóvis”. Começamos a descer o morro. A estrada ainda “um sabão”. Ufa, estamos chegando...chegamos.

Na chegada perguntamos ao seu Osório se ele ja havia dirigido em tanto barro. Sua resposta foi: “...e ói que até que eu vim bem, nunca tinha guiado na lama...”. Eu e o Nando olhamos um para o outro e, naquele momento pudemos ver que ambos acreditavamos em Anjos da Guarda.

Chegamos com o jogo ja comecado. A Argentina de Maradona, Kempes, Passarella e Bertoni era franco-favorita, segundo os comentaristas. A Italia havia se classificado pelo número de gols com 3 empates contra Peru, Polônia e Camarões. Como poderia ganhar da Argentina. Eu e o Nando, ambos leitores assíduos do “Guerrin Sportivo”, revista de futebol Italiano, sabíamos que não era bem assim. A Itália era formada pela base da Juventus, o melhor time da Europa, com uma defesa muito forte. O ataque era muito rápido e o meio campo tinha vários fora de serie como Tardelli e Antognoni (que havia se recuperado de uma fratura craniana semanas antes da Copa).

Bom, como todo mundo sabe, este jogo marcou o nascimento do Campeão daquela Copa, o time que bateu o nosso Brasil e protagonizou a “Tragedia do Sarriá”. A Itália bateu a Argentina, repetindo a “Zebra” de 1978, jogando em contra-ataques rápidos e com marcação fortíssima. Nós dois ficamos tirando sarro dos “barbudinhos” Argentinos, já que eles não faziam a barba para “impor mais respeito” aos adversarios. Pareciam um bando de saltimbancos.

Eu e o Nando almoçamos na frente da televisão. Arroz e Feijão, bife e batata-frita. . Não dá para esquecer as mixiricas de sobremesa. Logo depois daquele jogo seria avez de Bélgica X Polônia, outro jogo que queríamos assistir. Mas, como havia um intervalo de 20 minutos entre os jogos, nós podíamos jogar uma partida de Botão.

Claro que montamos uma Copa do Mundo de Botão, com todos os times e tabela igualzinha a da Fifa. Ficavamos jogando até a madrugada, até quando não aguentavamos mais ficar acordados.

Apesar da tristeza que ainda sinto pela derrota daquele time mágico do Brasil, ainda lembro muito bem daquela época quando passamos as férias na fazenda, jogando horas de futebol de botão, futebol no campinho todas as tardes e jogos e mais jogos da Copa do Mundo. Mas, acima de tudo, lembro do nosso companheirismo e amizade.

Dão,

Abril de 2002

A Nona Copa

Poema Escrito antes da Copa de 2002:

Minha Nona Copa

Virei Pelé branco de camisa e chuteira,
Do cão que andava em camera-lenta,
Fogos e Balões ao fim de cada jogo,
Time dos sonhos de 70.

Em 74, um Lobo surpreendido,
Passou suado pelos desengonçados africanos,
Olhava um Chevrolet amassado por uma laranja mecânica,
E um Leão dando Chagas em um certo Marinho caído,
Um Caju e um Jair contando francos Olimpianos,
Apesar de um certo bigode com sua canhota dinâmica.

De 78 o capitão Coutinho
Esqueceu em casa um PC e um pássaro Falcão,
Com Overlapings em Mar del Plata esburacada,
Recorreu ao Xerife Chicão,
Meio time fugiu de pancada,
Só moral seria campeão.

O time encantado de 82 que na relva flutuava o mágico quadrado,
Enchia os olhos a elegancia de Telê sem medo
A bomba conhota de Eder, calcanhar do Magrão e Zico endiabrado,
Cerezzo e Júnior e um time montado a dedo,
Caímos pela fatalidade de um Rossi predestinado,
Choramos todos o azar de um dia muito azedo.

Em 86 depois da surpresa de um “Gump” Josimar,
E de um show de um Careca cabeludo,
Vimos de longe um Armando genial de um time de um homem só,
Tomamos só um gol de um Michel de matar,
Perder penaltis foi mesmo de dar dó,
Deixamos a Copa no poste, apesar do nosso Menudo.

Em 90 um time sem brilho ou fantasia,
Derrubado por um Diego ferido,
Um técnico que nada sabia,
Foi um fim bem cabido.

De 94, na America do Norte,
Um time certinho e marcador que tocava a bola no chão,
Desde Leo cotovelada a Zinho enceradeira,
Beteto e Romario sempre abrindo um vão,
Um Dunga gritando de braçadeira,
Baggio pra fora! Brasil Campeão.

Em 98 em Paris não estivemos na final,
Nem teimoso Lobo grisalho explica essa pane,
Um garoto nervoso passa mal,
Aplaudimos o tal Zidane.

Para a primeira do novo Milenio,
A esperanca continua e o coração esquenta,
Que um Rivaldo dois Ronaldos e um Kaka gênio,
Ainda possam trazer este Penta!

Saudações de Rosário


Saudações de Rosário

Este fato ocorreu durante a Copa do Mundo de 1978, realizada na Argentina. Na segunda fase, que decidiria quem iria para a final, Brasil e Argentina fizeram um jogo nervosissimo em Córdoba com um empate em 0X0 com direito a cotovelada no olho de um jogador Argentino e tudo.

A última rodada decidiria quem estaria classificado para a final. O Brasil jogava contra a Polônia às 4 da tarde e a Argentina pegaria o Perú às 19:00. Como a coisa seria decidida no saldo de gols, a gente sabia que poderia haver marmelada. O Perú era um time fraco, mas não de tomar muitas goleadas. Naquela Copa haviam vencido a Escócia e empatado com a Holanda. O Brasil conseguiu ganhar dos Peruanos por 3X0, graças a dois chutes de longe do Dirceuzinho. Já a Argentina havia ganho da Polônia por 2X0.

O Brasil ganhou dos Poloneses por 3X1, até que jogando um futebol convincente. Com esta vitória por dois gols de diferença o Brasil fazia 5 de saldo positivo. Isto obrigava a Argentina a ganhar do Perú por 4 gols de diferença para chegar a final.

Os adultos, já sabendo da ditadura Argentina e do horário arrumado para a beneficiar os donos da casa nem quiseram assistir ao jogo. Fiquei lá eu, com meus 14 anos de idade assistindo e torcendo. Se é que deu tempo para torcer. A Argentina já ganhava de 4 antes do fim do primeiro tempo. Eu assistia a tudo sabendo que era arranjado, mas sempre com esperanças de garoto de que o Perú faria um gol e não tomaria nenhum no segundo tempo.

Estava assistindo por um canal estatal, já que a imagem era muito melhor do que os outros canais, graças a antena instalada a menos de um quilometro da casa onde morava. O Comentarista, que aqui vou chamar de José Dinimarca para não ofendê-lo, estava ficando irritado e fazendo comentários satíricos sobre o jogo. A sua voz foi ficando mais e enrolada a cada minuto.

Eis, que no início do segundo tempo, a Argentina marca o quinto gol. O tal comentarista fala bem alto: “Vai, fajz logo 10 goljs, bate o recorde em Copajs do Mundo, e acaba com esta palhaçada”.

Apesar da tristeza pela desclassificação do Brasil, não pude deixar de dar muitas risadas, entendendo que o tal Dinimarca estava tomando um porre enquanto “batiam a carteira” da Seleção Brasileira.

Naquela Copa, ficamos em terceiro lugar, depois de bater a Itália e, segundo o falecido Técnico Cláudio Coutinho, saímos como Campeões Morais. O time do Perú, quando chegou de avião a Lima, foi recebido com moedas jogadas pelos torcedores e chamados de vendidos.

Para mim, a lembrança é de que não se deve beber em serviço...


Dão

Abril de 2002




Os Leões Domados

Os Leões Domados

Este episódio ocorreu durante a Copa de 1974 na Alemanha. O Brasil, do conhecido Lobo Zagallo, havia feito dois jogos pelo grupo da primeira fase da Copa. Foram dois empates acovardados em 0X0 com a Iugoslávia e a Escócia. Contra os Eslavos tomamos uma bola na trave. Contra os beberrões teve o soco do Rivelino na cara do Billy Breme. Mas esses jogos não vem ao caso.

Faltava a última partida ao Brasil contra os turistas do Zaire. Os Leões como eram chamados faziam a sua primeira participação em Copas do Mundo. Perderam de 9X0 da Iugoslávia e só de 2X0 de uma Escócia que parecia estar de ressaca no dia deste jogo. Pela combinação de resultados o Brasil tinha que fazer 3X0 nos Africanos para ficar com a segunda vaga do grupo. Os Iugoslavos já haviam garantido o primeiro lugar pelo saldo de gols.

Foi num Sábado a tarde, nunca me esqueci. Fiquei em casa sozinho com o Gôs, meu irmão. O resto da Família teve que ir a um casamento. Pois é, um casamento em dia e horário de jogo do Brasil na Copa. Quem será que foi o panaca que marcou casamento para a hora do Jogo? Lembro do Papai ainda fazendo piadas sobre quem marcaria um casamento neste dia, mas, acima de tudo ele tinha que ser o idiota que iria ao invés de ver o jogo. Foi comentado que talvez o Noivo não aparecesse porque teria fugido para assistir ao jogo.

O jogo começou bem xoxo. O Brasil, um time que só sabia se defender tinha que atacar e ainda marcar 3 gols em um jogo só. Não havia feito nenhum nos outros dois jogos. Claro que estes Leões eram muito mansos, mas o Zagallo montou o time com tantos volantes que deu medo. No ataque tinha um Jairzinho que estava mais para Fura-Chão do que Furacão. O Caju se escondia em campo porque tinha medo de se contundir e perder seu contrato milionário com o Olimpique de Marselha. Dirceu, Piazza e Carpegiani eram bons, mas, segundo o Papai eram todos “Armandinhos”. De agressivo só sobrava o Rivellino. E foi dele o primeiro gol, numa patada que o goleiro nem viu.

O tempo ia passando. A Família chegou do casamento, o Papai de terno, furibundo porque estava só 1X0. Luís Pereira, o nosso quase Xará Zagueiro-Artilheiro tratou de botar a bola no filó. Com 2X0 o Brasil iria para sorteio com a Escócia para ver quem ficava com a vaga. Que vergonha...

O Leão, que foi a campo tomar sol nem chegou a tocar na bola. Podia ter tirado ele de campo para colocar o César Maluco, que mesmo gordo teria sido mais eficiente do que os que estavam jogando.

O ataque vinha lento, lento. A bola foi passada ao famoso ponta-direita do Inter de Porto Alegre. O Papai falou “Vai Dormir ô!”. Nisso sai um chute despretencioso da ponta e o Zaireano engole um frango inacreditável. Gol do Brasil! Gol de Valdomiro! Classificados, Ufa!

O Brasil ainda faria dois bons jogos nesta Copa e um primeiro tempo muito bom contra a Holanda de Cruiff e Neskens, que era mesmo muito forte para nós. A derrota para a Polônia nos colocou no quarto lugar. Até que honroso para um time tão covarde.

Mas aquele Sábado com direito a Casamento em horário de jogo vai ficar marcado na memória. Copa do Mundo e terno e gravata nunca combinaram.

Dão

Tuesday, January 13, 2009

Destro ou Canhoto?

Sempre me impressionei com os jogadores que chutavam bem com os 2 pés. Pele, Zé Sérgio, Eneias, Reinaldo. No Brasil parece que isso não foi tão estimulado pelos técnicos de base. Mas não só e importante, como pode decidir campeonatos.

Com uns 12 anos fiquei de saco cheio e comecei a treinar chutes de esquerda. Acabei ficando melhor com a esquerda do que a direita. Aquele drible pra dentro, dado desde a ponta direita (vide o gol do Renato Gaúcho contra o Hamburgo na final do mundial interclubes) e' marca de quem sabe usar o drible seco pra abrir espaços.

Agora nos tempos modernos, Kaka' e Cristiano Ronaldo sabem bater com as duas, Messi não. Claro que um pouco de diferença faz. Mas o Maradona não chutava de direita, e mesmo assim foi um dos maiores do mundo.

Meu conselho para quem esta começando. Trabalhe nesse fundamento, e também aprenda a cabecear bem.

Como diria um amigo meu, "chuto com as duas, portanto sou bípede".

Friday, January 9, 2009

Penta Atrasado

Essa estoria foi publicada na Gazeta Esportiva em 2006, mas conta o dia da decisao de 2002 :

Penta atrasado

Foto: Djalma Vassão/Acervo/Gazeta Press Moro nos Estados Unidos há quase três anos. Eu vinha acompanhando a Copa do Mundo de 2002 com muita atenção. Foram inúmeras noites quase sem dormir para ver o máximo possível de jogos, tanto do Brasil como de outras seleções. Afinal, além de ser fanático pelo Brasil, eu gosto de futebol. E a Copa do Mundo é a melhor época para saborear esta fruta.

Para assistir a semifinal entre Brasil e Turquia, tive que inventar para um cliente que havia trancado o carro com a chave dentro. Cheguei 40 minutos atrasado para o expediente... Qualquer coisa para ver a seleção! Que sofrimento! E na verdade o time estava jogando bem. Era eficiente e gostoso de assistir. Tinha os dois melhores jogadores da Copa, Ronaldo e Rivaldo. Até a defesa, sempre tão criticada, estava jogando bem.

Finalmente, chegou o dia da final Brasil e Alemanha. Um domingo às 7 horas da manhã daqui. O jornal que assinava havia anunciado a cobertura ao vivo pela ABC, e eu estava tranquilo de que o jogo seria transmitido. Afinal, são 2 bilhões de espectadores pelo mundo. A outra opção era a Univision, canal Hispano aqui nos EUA. Infelizmente meu receptor de satélite não estava com a assinatura para a Univision e, quando eu não estava viajando a trabalho e passando as noites em hotéis, eu assistia aos jogos pela ESPN. Nos hotéis sempre preferia a Univision porque os comentaristas são mais bem-humorados. Na ESPN os comentaristas são meio ranzinzas, mas tudo bem. Tenho certeza que já assisti a mais jogos do que eles, e vendo o jogo eu não preciso prestar atenção nisso.

Liguei a TV faltando cinco minutos para o jogo começar. Para o meu desespero, a ABC anunciou o videoteipe para as 12h30. Não só deixou de passar o jogo ao vivo como proibiu a ESPN de transmitir. Luta lerda!

Fiquei desesperado e, depois de pensar um pouco, lembrei que o lugar aonde jogo futebol soçaite, o Soccer Dome, tem um receptor de satélite, onde passava os jogos pela Univision. Como sempre havia gente, entrei no carro e voei até lá.

Tentei a porta da frente, mas estava trancada. Fui pela porta de trás e estava aberta. Entrei e fui até a sala aonde fica a TV. Trancada e vazia. Voltei e saí pela porta de trás. Comecei a ouvir um som de alarme. Era do próprio Soccer Dome. Por azar, eles haviam esquecido a porta destrancada e eu havia ativado o alarme.

Na saída dei de cara com algumas pessoas. "O alarme disparou? Que estranho... Deve ter sido um de vocês", falei. Entrei no carro e, sem querer esperar para dar explicações a polícia, fui para casa.

Na saída, devido ao fluxo de trânsito, tive que dar a volta no quarteirão e, quando olhei para o Soccer Dome, já vi um policial com lanterna na mão. Não quis parar. Muito aborrecido por não poder ver o jogo ao vivo, resolvi me isolar do mundo e assistir ao videoteipe as 12h30 como se fosse ao vivo.

Cheguei em casa quase as 8 da manhã. Desconectei o telefone. Desliguei o celular. Nada de internet, televisão ou rádio. Esperei pacientemente. Cortei a grama do jardim. Limpei o fogão. Preparei o café da manhã para as visitas que passavam o fim-de-semana conosco. As visitas saíram com a Jeanne, minha esposa. Eu quis ficar em casa. Não queria encontrar ninguém que conhecesse e que dissesse "Brazill! Champions!". Iria estragar tudo.

Joguei horas de "FIFA World Cup" no computador. A final: Brasil e Alemanha! Placar: 2 a 0, com dois gols de Ronaldo. Seria uma predição eletrônica?

O horário do VT foi chegando. A transmissão começou. Um monte de baboseiras. "Quero ver o jogo", pensava. A história da vida do Oliver Kahn não me interessa. Os comentários eram uma porcaria, um lero-lero mocorongo!

Então começou o jogo. Para mim era ao vivo. Sofri, vibrei, gritei gol e fiquei com os olhos mareados de ver o Brasil no topo do pódio. Um penta atrasado, mas na hora certa.


Thursday, January 8, 2009

Enfim comecei

Fazem anos que leio blogs dos outros. Agora também criei a minha própria.

Vou usar esta blog pra falar da vida, da familia, livros, futebol e de um Brasileiro nos EUA.