Sunday, January 18, 2009

A Lama Portenha

A Lama Portenha

Era o início das férias de julho de 1982. Coincidia com o começo da segunda fase da Copa do Mundo da Espanha. O Brasil estava indo muito bem, tendo batido a Russia, a Escócia e a Nova Zelândia com um grande futebol. A Copa estava sendo muito boa tecnicamente, com vários jogadores se destacando, como Zico, Falcäo, Rummenigge, Platini, Boniek e muitos outros. Até times como Camarões e Honduras, na sua primeira participação, haviam surpreendido. A exceção foi El Salvador, que perdeu por 10X1 para a Hungria.

Naquele dia chuvoso de Julho fomos eu e o Nando Cataldi para a Fazenda, sendo levados pelo nosso Motorista, o Seu Osório e também um exército de Anjos da Guarda. Resolvemos sair as 9 da manhã, já que nós dois eramos fanaticos por futebol. As 12:00 iriam passar o jogo entre Itália e Argentina, e nós tinhamos que assistir. A viagem deveria levar 2 horas, o que nos daria bastante tempo para nos “prepararmos” para assistir ao jogo.

Passamos a viagem inteira conversando sobre futebol. O Nando, meu amigo do peito, companheiro e adversario temido de Futebol de Botão além de armador para muitos gols era a companhia perfeita para a Copa. Nós assistíamos a todas as partidas.

O Seu Osório, acompanhado pelo batalhao de Anjos, ia dirigindo abaixo da velocidade permitida, que era 80 kilometros por hora na época. Mas como a conversa estava boa, não sentiamos o tempo passar.

Quase na chegada a fazenda a chuva apertou . Entramos na estrada de terra e percebemos que estava um verdadeiro lamaçal. “Devem ter passadop a Plaina” foi o comentário. O carro, um Opala verde-metálico com banco inteiriço e câmbio alto de 3 marchas dançava a traseira na subida escorregadia. Começamos a suar frio. O carro foi ficando mais e mais lento e então a subida terminou. Passamos a enorme pedra que destruia o fundo dos carros, a “Pedra do Vovo Clóvis”. Começamos a descer o morro. A estrada ainda “um sabão”. Ufa, estamos chegando...chegamos.

Na chegada perguntamos ao seu Osório se ele ja havia dirigido em tanto barro. Sua resposta foi: “...e ói que até que eu vim bem, nunca tinha guiado na lama...”. Eu e o Nando olhamos um para o outro e, naquele momento pudemos ver que ambos acreditavamos em Anjos da Guarda.

Chegamos com o jogo ja comecado. A Argentina de Maradona, Kempes, Passarella e Bertoni era franco-favorita, segundo os comentaristas. A Italia havia se classificado pelo número de gols com 3 empates contra Peru, Polônia e Camarões. Como poderia ganhar da Argentina. Eu e o Nando, ambos leitores assíduos do “Guerrin Sportivo”, revista de futebol Italiano, sabíamos que não era bem assim. A Itália era formada pela base da Juventus, o melhor time da Europa, com uma defesa muito forte. O ataque era muito rápido e o meio campo tinha vários fora de serie como Tardelli e Antognoni (que havia se recuperado de uma fratura craniana semanas antes da Copa).

Bom, como todo mundo sabe, este jogo marcou o nascimento do Campeão daquela Copa, o time que bateu o nosso Brasil e protagonizou a “Tragedia do Sarriá”. A Itália bateu a Argentina, repetindo a “Zebra” de 1978, jogando em contra-ataques rápidos e com marcação fortíssima. Nós dois ficamos tirando sarro dos “barbudinhos” Argentinos, já que eles não faziam a barba para “impor mais respeito” aos adversarios. Pareciam um bando de saltimbancos.

Eu e o Nando almoçamos na frente da televisão. Arroz e Feijão, bife e batata-frita. . Não dá para esquecer as mixiricas de sobremesa. Logo depois daquele jogo seria avez de Bélgica X Polônia, outro jogo que queríamos assistir. Mas, como havia um intervalo de 20 minutos entre os jogos, nós podíamos jogar uma partida de Botão.

Claro que montamos uma Copa do Mundo de Botão, com todos os times e tabela igualzinha a da Fifa. Ficavamos jogando até a madrugada, até quando não aguentavamos mais ficar acordados.

Apesar da tristeza que ainda sinto pela derrota daquele time mágico do Brasil, ainda lembro muito bem daquela época quando passamos as férias na fazenda, jogando horas de futebol de botão, futebol no campinho todas as tardes e jogos e mais jogos da Copa do Mundo. Mas, acima de tudo, lembro do nosso companheirismo e amizade.

Dão,

Abril de 2002

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